sexta-feira, 5 de dezembro de 2014



Com este texto de um filósofo e articulista português, desejo a todos um bom dia.
A Razão da Minha Esperança
Meu bom amigo, 
Sei que tens sofrido bastante.
Não posso esquecer que um dia me ensinaste: que leal é quem não abandona; que devemos procurar ser pessoas dignas de confiança, mais do que tentar encontrar alguém assim; e, que a vontade de amar já é, em si mesma, amor. 
Permite-me que partilhe contigo, hoje, algumas ideias a respeito dos momentos difíceis... 
São muitas as provas que na vida servem para testar quem somos, a força que temos em nós e o nosso valor. Algumas vezes uma pedra gigante vem cair mesmo diante de nós... outras vezes são séries infindáveis de pequenos obstáculos no caminho... longas etapas que nos obrigam a seguir adiante sem descansar, em percursos onde quase nunca se vê o horizonte. 
A agitação permanente em que vivemos leva muitos a desistir de encontrar referências mais adiante, mas é preciso que nos afastemos do tempo para assim encontrarmos a posição mais segura, elevando-nos acima dos momentos passageiros para os compreender melhor. No meio da confusão é preciso ver para além do que se pode olhar... estabelecer os alicerces sobre o que é sólido, ainda que seja preciso escavar muito mais fundo do que o normal... confiar sempre que há mais vida para lá desta. Que a nossa existência, tal como a conhecemos, é apenas um pedaço. 
Lembra-te que não há tantas verdades quantas pessoas, há uma só verdade... e imensas mentiras, erros e imprecisões. Confia na verdade, ainda que não a possas ver ou compreender. 
Não vás onde te levam as emoções. Nem vás para onde vão os outros. Constrói o teu plano com base na verdade que és, constrói-te... e sê feliz. Apesar de tudo. 
Não penses nunca que, por te escrever estas coisas, saberei mais ou estarei mais adiantado na viagem... não. Sou teu companheiro de caminho e procuro em ti, e através da tua luta, inspiração para a minha. Escrever é algo fácil e vulgar. Importante e determinante é cumprir um projeto de vida, com gestos concretos, sorrindo sempre apesar da vontade de chorar. Chorando, quando assim tem de ser, mas nunca desistindo de acreditar. 
Há uma esperança essencial à vida: a fé. Importa cuidar bem desta certeza. O sentido da nossa existência depende dela. 
Não desperdices energia a tentar eliminar o sofrimento. Podemos combatê-lo e limitá-lo através da fé, mas o sofrimento faz parte da vida. Fugir dele é escolher não viver. Lembra-te que Deus não está apenas no topo da alegria, está também no fundo da tristeza. Não estás só. Nunca. 
Não deixes que o pedregulho diante de ti te impeça de acreditar no horizonte que há para além dele... lembra-te que os obstáculos que encontramos no caminho tantas vezes nos conduzem para alegrias que doutra forma não iríamos abraçar. Não permitas que os longos tempos cheios de pequenos nadas te afastem da certeza da fé no que é pleno, bom e infinito. 
Eis a razão da minha esperança: olho para trás e vejo que na vida sempre me foi dado mais do que eu sonhei, que os meus desejos foram pequenos face às maravilhas que se realizaram diante de mim, para mim e em mim... aprendi com tudo isto a esperar pelo melhor, sem saber sequer o que isso significa... Acredito que contigo não será diferente. 
O futuro é um reino bem distinto de todos os que podemos imaginar. A única coisa certa é que estamos num caminho que não tem fim. 
Não permitas que nada perturbe a tua lealdade ao amor. 
Confio em ti e rezo por ti.
José Luís Nunes Martins, in 'Amor, Silêncios e Tempestades'

sábado, 22 de novembro de 2014

Eterna corda bamba!!! Vania Vieira, novembro de 2014.
Ausente ou inoportuna?
Vale decidir o que ser melhor ser...mas muitas vezes somos surpreendidas em nossas "boas intenções ", que nem sempre são avaliadas assim...
SE somos ausentes, somos tachadas de omissas e nos falta a vontade de ajudar quando necessário em muitas ocasiões....será a posição mais correta?
SE somos inoportunas por termos nosso jeito de pensar, nosso modo de cooperar, nossa opção espiritual e maneiras diferentes de ver a vida, aí somos invasivas , desrespeitosas...inoportunas , por não respeitarmos o "outro"...
Vidinha difícil  essa nossa....ou...somos nós que a tornamos difícil ?
quer saber mais???Lembrei-me agora de um ensinamento budista:" Viemos a este planeta, neste momento, com esta oportunidade de sermos nós...nada de ser, ter, ou possuir "o outro", seja ele quem for..."
Fica a dica!...
...tente discordar, concordando ou...concordar, discordando!
Nem que seja internamente...
Loucura, loucura, loucura!
"Sim, sinto saudades de momentos que não vivenciei...
Sinto saudades das pessoas que eu não conheci, dos lugares que ainda não visitei, das músicas que eu ainda não ouvi, das coisas que eu não sei...de amores que eu não viví, de romances que não escrevi, de desenhos que eu não tracei...
Saudades dos amigos que eu não fiz, das festas que não frequentei, das pessoas que deixei de conhecer e das coisas que eu não fiz...
Saudades dos sonhos que eu não tive, das oportunidades que não surgiram, das coisas que eu ainda não aproveitei, dos sabores e aromas que não senti, nem provei...
Sinto saudades da minha normalidade contida, da minha loucura reprimida...e do que mais?Saudades de mim!!!
Apenas sinto saudades...saudades do que não fui...do que não fiz...do que não viví...
saudades em mim!"
Vania Vieira, agosto de 2014.

sábado, 20 de setembro de 2014

Quem inventou o campo magnético que arrasta, de forma irresistível, uma alma para outra alma?
Companheiras eternas, não se perderão jamais... elas sentem, elas sabem, sorriem por trás do véu da separação, e, nada, nem ninguém, poderá destruir o amor que as uniu para sempre...

quinta-feira, 28 de agosto de 2014


Acredito que tudo em nossa vida é um aprendizado e não importa o tempo e nem a idade, mas o que importa é continuar e ir passo a passo conquistando nossos sonhos, realizando nossos projetos, enriquecendo nosso conhecimento. Enfrento sempre os obstáculos com obstinação e coragem e é a força de vontade que te faz levantar e seguir em frente...aprendí...se cair, levanta; se chorar, sorria; se perder, ganhe novamente, mas nunca desista sem antes tentar, sem antes reagir e recomeçar...
Aprendemos a andar, caindo... era um levanta e cai, segurava em tudo, e por fim veio o primeiro, o segundo passo e ninguém mais o segurava...não foi assim? E ...
É, assim é a vida, um dia após o outro. Aprendemos a viver com as alegrias e tristezas, com as vitórias e derrotas, com nossos acertos e erros, com as realizações e decepções e vamos !!!
aprendamos a levantar e andar novamente...
POEMA DO MENINO JESUS-
Fernando Pessoa /Alberto Caieiro.
Num meio-dia de fim de Primavera
Tive um sonho como uma fotografia.
Vi Jesus Cristo descer à terra.
Veio pela encosta de um monte
Tornado outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva
E a arrancar flores para as deitar fora
E a rir de modo a ouvir-se de longe.

Tinha fugido do céu.
Era nosso demais para fingir
De segunda pessoa da Trindade

Um dia que Deus estava a dormir
E o Espírito Santo andava a voar,
Ele foi à caixa dos milagres e roubou três.
Com o primeiro fez que ninguém soubesse que ele tinha fugido.
Com o segundo criou-se eternamente humano e menino.
Com o terceiro criou um Cristo eternamente na cruz
E deixou-o pregado na cruz que há no céu
E serve de modelo às outras.

Depois fugiu para o Sol
E desceu pelo primeiro raio que apanhou.

Hoje vive na minha aldeia comigo.
É uma criança bonita de riso e natural.
Limpa o nariz ao braço direito,
Chapinha nas poças de água,
Colhe as flores e gosta delas e esquece-as.
Atira pedras aos burros,
Rouba a fruta dos pomares
E foge a chorar e a gritar dos cães.
E, porque sabe que elas não gostam
E que toda a gente acha graça,
Corre atrás das raparigas
Que vão em ranchos pelas estradas
Que levam as bilhas às cabeças
E levanta-lhes as saias.

A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as coisas.
Aponta-me todas as cores que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
Quando a gente as tem na mão
E olha devagar para elas.
Damo-nos tão bem um com o outro
Na companhia de tudo
Que nunca pensamos um no outro,
Mas vivemos juntos os dois
Com um acordo íntimo
Como a mão direita e a esquerda.

Ao anoitecer brincamos às cinco pedrinhas
No degrau da porta de casa,
Graves como convém a um deus e a um poeta,
E como se cada pedra
Fosse todo o universo
E fosse por isso um perigo muito grande
Deixá-la cair no chão.

Depois eu conto-lhe histórias das coisas só dos homens
E ele sorri porque tudo é incrível.
Ri dos reis e dos que não são reis,
E tem pena de ouvir falar das guerras,
E dos comércios

Depois ele adormece e eu
Levo-o ao colo para dentro de casa
E deito-o na minha cama,
despindo-o lentamente
E como seguindo um ritual muito limpo
E todo materno até ele estar nu.

Ele dorme dentro da minha alma
E às vezes acorda de noite
E brinca com os meus sonhos.
Vira uns de pernas para o ar,
Põe uns em cima dos outros
E bate palmas sozinho
Sorrindo para o meu sonho.

Quando eu morrer, filhinho,
Seja eu a criança, o mais pequeno.
Pega-me tu ao colo
E leva-me para dentro da tua casa.
E deita-me na tua cama.
Despe o meu ser cansado e humano
E conta-me histórias, caso eu acorde,
Para eu tornar a adormecer.
E dá-me sonhos teus para eu brincar...


Enviada do meu iPad
Eu os amei...assim...amor lunar...
Vânia Vieira ,
(o amor tem tempo indeterminado...)
E u amei cada barriga,
dos bebês redondos,
com cheiro bom,
de lavanda
feita por mim mesma.
E guardei essas meninas,
no meio dos meus seios.
como quem esconde tesouros...
Rindo, cantei
cantigas de amar...
de entoar...
cantigas de ninar..
cantigas de relembrar...

No calmo aconchego de tardes chuvosas,
estava lá...
ciosa do meu lar,
contente de ficar, ostra, uterina,
no enrodilhado dos dias banais...
Eu não amava a rotina,
mas estava lá...
pretenciosa no meu calar,
estava lá...
ouvindo muito,
dias passando...a esperar...
Eu, alma judia, canceriana, mulher lunar!!!
Num enroladinho de linho e seda me trouxeram as meninas. Cada uma delas apresentada num embrulho que eu caprichei: eram mantas macias, com cheiro bom, do perfume de lavanda feita por mim mesma para cada uma ...Enrolei-as em mim, depois de cada parto, no quente dos meus seios, na minha carne agora descansada.
Veio a primeira, olhos negros atentos, fitos em mim, o choro estancado apenas por me ver. Aninhei-a em meus braços. Veio a segunda, chorinho manso, clarinha, serena, aninhou-se. Veio a terceira, rosa branca, pele aveludada, na manta branca, uma princesa...mais uma princesa!!!
Eu me contentava em alimentar cada uma delas, cantarolar canções inaudíveis, apenas murmuradas; para cada qual um som, uma poesia diferente...
Minhas meninas se fizeram mulheres e já não posso prendê-las aos meus seios, tampouco calar-lhes as mágoas com cantigas de ninar. Cada uma traz a dor indizível, de menina, de mulher, porque todas as mulheres foram feitas para suportar as dores do mundo e sofrem de alguma maneira. Um mar se derrama por elas, ao menor descuido.
E eu, me surpreendo estupefata, as palavras fogem, e silêncio profundo se interpõe entre os nós, de nós quatro. Quatro mulheres que se amam e se buscam no barulho da casa, onde também vive uma coruja. Quatro mulheres mais uma: uma coruja , de uma rua cheia delas nos acompanha, essa que eu descubro ser a mais frágil, simbolizada pela criança que há em mim e que precisa se sentir forte para cuidar das outras três. Vou descobrindo entre um susto e outro, entre uma alegria e uma dor, o quanto amo cada uma delas, essas lindas meninas que parecem muitas vezes ter chegado de uma vez só. Um amor que às vezes se expressa em horas eternas, quando ficamos juntas, na concha-casa, sem querer arredar o pé porta afora. Eu sinto que preciso protegê-las...Ficamos horas enroladas em nossos mistérios íntimos, pairamos imunes aos aplausos ou críticas, no entreato de cada manhã e cada anoitecer, intercalando-se...
Padeço de ser mulher, padeço de ser mãe, padeço de uma alegria doída e mágica por cada uma das minhas filhas, geradas, amadas, retidas no meu coração.
Padeço de ser filha (e neta) de grandes mulheres, guerreiras como eu, mas também felinas da floresta, aguerridas lutadoras, feras da tragédia cotidiana, dum palco sem plateia, no anonimato dos dias, costurados com retalhos dos sonhos que permanecem. Padeço de ser avó...
Rendo-me ao zelo permanente, e curvo-me à rotina da caverna: este é meu rito e minha iniciação.
Vânia Vieira- dezembro de 1977.
Enviada do meu iPad
A SEMENTE E A LUZ
Quando vamos plantar algo no campo, temos que retirar as ervas daninhas que competem com a semente em seu crescimento. E também, por acréscimo, fertilizamos a terra para que a semente cresça com mais força. Temos que fazer estas coisas: Retirar o que não serve... e colocar o que é preciso para fortalecer a semente.
Assim também é nossa vida no dia a dia. Nós somos como sementes que estamos crescendo em consciência espiritual no solo desse planeta. De modo que muitas coisas, que são negativas na nossa vida... que são como ervas daninhas... devem ser arrancadas... sem medo... sem apegos.. sem consideração emocional. Porque... aqui estamos falando do crescimento da semente... da evolução das coisas em nós que são as mais importantes da nossa existência. Isto não significa rejeitar as coisas... mas arrancá-las mesmo.. quando não nos servem ao propósito superior da nossa vida.
Você não pode concordar com nada neste mundo que atrase o seu propósito evolucionário... porque é exatamente por isso que você está aqui neste planeta, neste Universo... neste exato momento. Sua vida só tem significado verdadeiro no caminho interno da evolução. Mas por apego e por sentimentos fracos... nós continuamos aceitando certas situações que não são concernentes ao nosso avanço de consciência... e assim continuamos como sementes sem crescimento... debaixo da terra escura... sufocadas... agoniadas... e todo o alimento da terra passa a ir para as ervas daninhas... que... com o nosso coração ignorante e penalizado por tudo que nos rodeia... acabam roubando toda a energia que o Universo nos destinou para avançarmos... ou progredirmos neste mundo enquanto almas a despertar em experiências neste planeta.
Olha! Sempre que você começa a querer se desenvolver consciencialmente neste mundo... sempre quando a semente começa a querer desabrochar... para se tornar uma grande e linda árvore... vão vir condições sinistras que vão tentar atrapalhar seu crescimento.... ou competir energeticamente com a sua semente. Elas, estas condições competitivas, sempre virão... e muitos, muitos, acabam desistindo do caminho. E é isto que se chama "as tentações". Por isso devemos ser determinados, no dia a dia.... a não nos associarmos com as ervas daninhas... e arrancá-las do nosso desenvolvimento a todo custo. Não se penalize nesta situação. A maioria das pessoas não está nem um pouco interessada em evoluir neste planeta.... Apenas brincam com a espiritualidade... assumindo alguma religião ou não religião para dar uma satisfação à sociedade. E por fim... te atrapalham a evoluir também... com suas opiniões e conselhos insensatos.
Além disso... devemos adubar a nossa terra interna com o estudo, com a meditação, com a oração, com a busca sincera e focada, com a centralização em nosso ser, com o sangue da nossa alma... para descobrir esta Realidade que está por trás de tudo... e que Se manifesta em nosso coração como Algo Supremo... e que é mais simples do que imaginamos. É desta forma, resolutos em nosso propósito interno... que nossa semente vai começar a virar um broto... e depois lançar folhas para absorver os maravilhosos raios do Sol... que representa a Vida, a Vitalidade Suprema. Neste momento... quando a nossa planta estiver mais desenvolvida... poderemos conviver com algumas ervas daninhas... porque estaremos fortes para não ser sucumbidos por sua influência energética... e também por sua negatividade evolutiva. Porém, isto é só depois de um tempo... quando você realmente está exposto diretamente aos raios do Sol... mas também numa quantidade moderada e saudável... de acordo com o quanto você pode se expor... em seu amor e receptividade de realização.
Assim, os tempos são curtos... e a vida é breve. Você é sempre uma semente eterna... mas tem que se plantar no solo do seu interno o quanto antes nesta vida material em que está atualmente. Você tem que se perguntar sempre: Porque estou aqui? Não deixe para depois. O solo desta forma humana é muito rico... e não devemos perder esta excelente oportunidade de realizar o mistério da existência... a conexão com o Supremo.. a felicidade em nosso coração... o êxtase de entender o que é esta Vida e a razão de tudo o que nos cerca. Você pode entender isto com profundidade, a real importância do tempo que você ainda tem por aqui?
Não vamos morrer, ou abandonar nosso corpo material, como sementes tristes e presas à terra do nosso corpo físico e mental... cheio de medos e lamentações. Levante-se agora mesmo... não importa a condição em que você esteja... e comece a adubar diariamente o solo do seu coração com sabedoria, devoção, entendimento, e amor! Comece hoje... da forma que você puder! O solo da existência, em todos os sentidos, vai fornecer tudo o que você precisa para sua semente crescer. E no fim você se tornará uma árvore de luz... assim como são os grandes mestres... árvores prontas tentando levar sua própria luz às sementes que estão dormindo em seus corações inférteis...no profundo da ignorância.... da escuridão.
E essa luz... a luz que você tem e realizou... será a própria Luz do Sol... que dá vida e consciência a todas as coisas dentro deste Universo. E nesta luz consciente... você um dia irá voltar feliz para o Reino do Supremo... muito além desta pequenina Terra. Ou poderá escolher ficar por aqui... por mais um tempo... a serviço superior... dando a sua luz para algumas sementes enquanto estão embaixo da terra... até que elas cresçam... e possam receber diretamente a Luz do próprio Sol em seus corações.

Todos os dias eu me sento aqui num pequeno canto de mim mesmo e me conecto com a dimensão interna. É ali que está o famoso "Reino de Deus". Entendam.. que esse Reino é uma manifestação luminosa da sua consciência, uma condição consciencial. Ela sempre esteve em nós... aqui e agora... além do tempo e do espaço. Se você não acessá-la diariamente e não puder mantê-la o máximo possível em seu coração... pode ter certeza que sua continuidade será no Vale de Lágrimas, no Reino da Ilusão, da lamentação, na insegurança.... no acúmulo constante de mais e mais ansiedades. É difícil eu sei...ás vezes pensamos ter atingido isso, outras mergulhamos em noites negras... Porém, quando mergulhamos diariamente em nós e conseguimos manter esta consciência... vamos além das dualidades deste mundo de matéria temporária.Confio!

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Manifesto pela ocupação amorosa dos corações vazios

E de agora em diante, fica estabelecido que todos os corações vazios, mal amados, partidos, abandonados ou tão somente subutilizados serão pacífica e amorosamente invadidos e ocupados pelo amor em todas as suas formas.
Sem paus e pedras e enxadas, mas com flores e música e presentes e simples declarações de apreço e cuidado, o amor tomará posse irrevogável de todo e qualquer coração devoluto. Banqueiros e bancários, construtores e operários, empresários, professores, artistas de rua, profissionais de toda sorte, adultos e crianças e velhinhos, todas as almas solitárias deste mundo! Preparem-se para ceder sem luta à chegada implacável do amor às terras férteis de seus corações.
Abram seus portões, escancarem as portas, liberem as janelas, prendam os cachorros e preparem a casa à visita permanente do amor operário, trabalhador, corajoso e simples. Ele vai chegar sem slogans ou passeatas, sem discursos, gritos de guerra ou enfrentamentos com a polícia. Vai surgir na hora mais silenciosa da noite, deitar ao seu lado e acordar com você na hora de ir ao trabalho, como se ali estivesse desde sempre.
O amor vai chegar assim, de manso, mas com o passo forte e a potência de um jato varrendo a craca dos rancores, a sujeira grossa dos maus pensamentos, a gordura acumulada das chateações diárias, da burrice, da inveja, da grosseria. Virá com a força mesma da vida, desobstruindo os canais da memória entupidos de morte. Virá alegre como o cão que reencontra o dono depois da eternidade de um dia inteiro sozinho em casa, à espera.
E então as preocupações ordinárias e mesquinhas farão as malas e deixarão os corações livres para viver em absoluto estado de ocupação plena pelas intenções e ações de um amor generoso, diário e vital.
Esse amor que acorda cedo e faz ginástica, que parece tão mais jovem do que de fato é, esse amor vai pintar as paredes da casa, mudar a posição dos móveis, vai matar a sede e a fome que restam, soltar os passarinhos de suas gaiolas ridículas, vai cuidar da horta no quintal e presentear os vizinhos com as verduras frescas. Esse amor vai florescer e perdurar e se esparramar pelas redondezas. Vai levar ao passeio diário os cachorros que vivem dentro de cada um de nós. Esse amor vai invadir em paz a nossa vida tão talhada para a guerra.
E quando as forças armadas de um coração já machucado se levantarem em defesa natural de sua estrutura, em puro e simples movimento de autopreservação, o amor estenderá sua mão pequena e linda, de unhas roídas e sem nenhum esmalte, e todas as armas cairão em silêncio. Então esse coração abrirá suas fronteiras à chegada irrefreável do encantamento amoroso e total, explosão de energia que nos leva ao encontro de quem somos, nos resgata da morte e nos devolve, sãos e salvos, à vida que é hoje, amanhã e depois um longo e eterno agora.
Ilustração:  Elena Romanova