"Os médicos estão entre as três maiores causas de morte atualmente"
Vernon Coleman
. Tem 57 anos
. Gosta de escrever livros de ficção e já publicou 12 romances
. Divide seu tempo entre o interior da Inglaterra e uma cobertura no
centro de Paris
. Sofre de "cotovelo de tenista" nos dois braços por causa da má-postura
ao digitar
Medicina faz mal à saúde
O médico Vernon Coleman diz que os hospitais mais matam do que
curam e que é preciso ser muito saudável para sobreviver a um deles
Por Sérgio Gwercman
Um selo colado na testa advertindo sobre os perigos que podem causar
à saúde. Se dependesse do inglês Vernon Coleman, esse seria o
uniforme ideal dos médicos. Dono de um diploma em medicina e um
doutorado em ciências, Coleman abandonou a carreira após dez anos de
trabalho para ganhar a vida escrevendo livros com títulos sugestivos do
tipo Como Impedir o seu Médico de o Matar.
Autor de 95 livros, o inglês é um auto-intitulado defensor dos direitos dos
pacientes. Em seus textos, publicados nos principais jornais do Reino
Unido, costuma atacar a indústria farmacêutica - para ele, a grande
financiadora da decadência - e, principalmente, os médicos que
recusam tratamentos que excluam a utilização de remédios e cirurgias.
Dono de opiniões polêmicas, Coleman ainda afirma que 90% das
doenças poderiam ser curadas sem a ajuda de qualquer droga e que
quanto mais a tecnologia se desenvolve, pior fica a qualidade dos
diagnósticos.
Como um médico deve se comportar para oferecer o melhor tratamento
possível a seu paciente?
Os médicos deveriam ver seus pacientes como membros da família.
Infelizmente, isso não acontece. Eles olham os pacientes e pensam o
quão rápido podem se livrar deles, ou como fazer mais dinheiro com
aquele caso. Prescrevem remédios desnecessários e fazem cirurgias
dispensáveis. Ao lado do câncer e dos problemas de coração, os
médicos estão entre os três maiores causadores de mortes atualmente.
Os pacientes deveriam aprender a ser céticos com essa profissão. E os
governos, obrigá-los a usar um selo na testa dizendo "Atenção: este
médico pode fazer mal para sua saúde".
Qual a instrução que pacientes recebem sobre os riscos dos
tratamentos?
A maior parte das pessoas desconhece a existência de efeitos
colaterais. E grande parte dos médicos não conhece os problemas que
os remédios podem causar. Desde os anos 70 eu venho defendendo a
introdução de um sistema internacional de monitoramento de
medicamentos, para que os médicos sejam informados quando seus
companheiros de outros países detectarem problemas.
Espantosamente, esse sistema não existe. Se você imagina que, quando
uma droga é retirada do mercado em um país, outros tomam ações
parecidas, está errado. Um remédio que foi proibido nos Estados Unidos
e na França demorou mais de cinco anos para sair de circulação no
Reino Unido. Somente quando os pacientes souberem do lado ruim dos
remédios é que poderão tomar decisões racionais sobre utilizá-los ou
não em seus tratamentos.
Você considera que os médicos são bem informados a respeito dos
remédios que receitam a seus pacientes?
Acompanhando didaticamente alunos do 6º ano (prestes a entrar na vida
profissional) constatei que apenas 5% conhecia a farmacocinética dos
produtos que propunham aos pacientes. Entre profissionais experientes
não consigo estimar, no entanto suponho ser porcentagem menor, pois a
prática usual em vários empregos com períodos extensos e irregulares
diminuem a possibilidade de aprender, especialmente bioquímica e
farmacologia. Para aumentar este problema, temos alterações
periódicas na composição dos produtos comerciais com vistas a
aumentarem o preço, por serem considerados medicamentos novos. O
que dificulta mais ainda o escasso tempo médico dedicado a
atualização.
A maior parte das informações que eles recebem vem da companhia que
vende o produto, que obviamente está interessada em promover
virtudes e esconder defeitos. Como resultado dessa ignorância, quatro
de cada dez pacientes que recebem uma receita sofrem efeitos
colaterais sensíveis, severos ou até letais. Creio que uma das principais
razões para a epidemia internacional de doenças induzidas por
remédios é a ganância das grandes empresas farmacêuticas. Elas fazem
fortunas fabricando e vendendo remédios, com margens de lucro que
deixam a indústria bélica internacional parecendo caridade de igreja.
E o que os pacientes deveriam fazer? Enfrentar doenças sem tomar
remédios?
É perfeitamente possível vencer problemas de saúde sem utilizar
remédios. Cerca de 90% das doenças melhoram sem tratamento, apenas
por meio do processo natural de autocura do corpo. Problemas no
coração podem ser tratados (não apenas prevenidos) com uma
combinação de dieta, exercícios e controle do estresse. São técnicas
que precisam do acompanhamento de um médico. Mas não de remédios.
Receber remédios não é o que os pacientes querem quando vão ao
médico?
É verdade que muitos pacientes esperam receber medicamentos. Isso
acontece porque eles têm falsas idéias sobre a eficiência e a segurança
das drogas. É muito mais fácil terminar uma consulta entregando uma
receita, mas isso não quer dizer que é a coisa certa a ser feita. Os
médicos deveriam educar os pacientes e prescrever medicamentos
apenas quando eles são essenciais, úteis e capazes de fazer mais bem
do que mal.
Que problemas os remédios causam?
Sonolência, enjôos, dores de cabeça, problemas de pele, indigestão,
confusão, alucinações, tremores, desmaios, depressão, chiados no
ouvido e disfunções sexuais como frigidez e impotência.
Em um artigo, você cita três greves de médicos (em Israel, em 1973, e na
Colômbia e em Los Angeles, em 1976) e diz que elas causaram redução
na taxa de mortalidade. Como a ausência de médicos pode diminuir o
risco à vida?
Aqui no Brasil pudemos constatar o mesmo durante greve prolongada
de médicos no Rio de Janeiro
Hospitais não são bons lugares para os pacientes. É preciso estar muito
saudável para sobreviver a um deles. Se os médicos não matarem o
doente com remédios e cirurgias desnecessárias, uma infecção o fará.
Sempre que os médicos entram em greve as taxas de mortalidade caem.
Isso diz tudo.
Muitas pessoas optam por terapias alternativas. Esse é um bom
caminho?
Em diversas partes do mundo, cada vez mais gente procura práticas
alternativas em vez de médicos ortodoxos. De certa maneira, isso quer
dizer que a medicina alternativa está se tornando a nova ortodoxia. O
problema é que, por causa da recusa das autoridades em cooperar com
essas técnicas, muitas vezes é possível trabalhar como terapeuta
complementar sem ter o treinamento adequado. Medicina alternativa
não é necessariamente melhor ou pior que a medicina ortodoxa. O
melhor remédio é aquele que funciona para o paciente.
Em um de seus livros, você afirma que a tecnologia piorou a qualidade
dos diagnósticos. A lógica não diz que deveria ter acontecido o
contrário?
Testes são freqüentemente incorretos, mas os médicos aprenderam a
acreditar nas máquinas. Quando eu era um jovem doutor, na década de
70, os médicos mais velhos apostavam na própria intuição. Conheci
alguns que não sabiam nada sobre exames laboratoriais ou aparelhos de
raio X e mesmo assim faziam diagnósticos perfeitos. Hoje, os médicos se
baseiam em máquinas e testes sofisticados e cometem muito mais erros
que antigamente.
Infelizmente tenho constatado mais agravantes neste aspecto de
exames:
1- 70% dos resultados de exames onde os pacientes referem que estão
normais (ditos pelos médicos que solicitaram) tenho encontrado
alterações documentadas no próprio exame (constado nos valores de
referência). Isto reflete dupla negligência; do médico que não valorizou a
alteração e do paciente que não se dignou a comparar seus resultados
com os valores de referência fornecidos.
2- alguns exames esclarecedores muitas vezes não são solicitados ou
valorizados, entre eles cito dois que são pungentes: marcadores
tumorais e pesquisa de sangue oculto nas fezes.
3- Realizam exames que já não têm nexo em nosso contexto, como por
exemplo a mamografia (o ultrassom de mamas é muito mais sensível nos
processos iniciais, como tem noticiado fartamente nossa imprensa
popular há 3 anos e as publicações técnicas há 7 anos).
4- Solicitam exames caros e arriscados sem indicação clínica adequada
(o exemplo aqui é do cateterismo cardíaco - embora eu sempre insista
neste assunto, aconteceu com minha família dois acidentes com o
contraste durante cateterismo, um por indicação monetária e não clínica
e o outro com indicação clínica que resultou em óbito durante o exame)
5- Aonde é importante os exames laboratoriais ao invés de exame físico,
a maioria insiste no exame físico. Aqui o exemplo mais pungente é o
toque retal para avaliar próstata, pois o ultrassom pode mostrar dezenas
de vezes melhor do que a palpação, indicando nodulações (ou outras
alterações) internas ou na face anterior onde não é possível palpar.
Semelhante perspectiva podemos assumir perante o toque vaginal para
avaliar útero e ovários.
6- Solicitam exames complexos e/ou arriscados sem terem realizados os
exames mais simples e inócuos previamente. Aqui podemos utilizar o
exemplo do ecocardiograma (ultrassom cardíaco) sem
Eletrocardiograma ou Rx de tórax prévios.
Aqueles que quiserem entender melhor sobre exames, sugiro o link
indicado nos meus link favoritos: Guide to Clinical Preventive Services,
of Columbia University Medical Center
Você faz ferrenha oposição aos testes médicos realizados com animais
em laboratórios. De que outra maneira novas drogas poderiam ser
desenvolvidas?
Faz muito mais sentido testar novas drogas em pedaços de tecidos
humanos que num rato. Os resultados são mais confiáveis. Mas a
indústria não gosta desses testes porque muitos medicamentos
potencialmente perigosos para o homem seriam jogados fora e nunca
poderiam ser comercializados. Qual o sentido de testar em animais?
Existe uma lista de produtos que causam câncer nos bichos, mas são
vendidos normalmente para o uso humano. Só as empresas
farmacêuticas ganham com um sistema como esse.
O que você faz para cuidar da saúde?
Eu raramente tomo remédios. Para me manter saudável, evito comer
carne, não fumo, tento não ficar acima do peso e faço exercícios físicos
leves. Para proteger minha pressão, desligo a televisão quando médicos
aparecem na tela apresentando uma nova e maravilhosa droga contra
depressão, câncer ou artrite que tem cura garantida, é absolutamente
segura e não tem efeitos colaterais.