sábado, 25 de julho de 2009

Pátria-Poema Árabe.

O meu filho coloca a sua caixa de pintura à minha frente
E pede-me que lhe desenhe um pássaro.
Mergulho o pincel na cor cinzenta
E traço um quadrado com fechaduras e grades
.Os seus olhos enchem-se de surpresa:"... Mas isto é uma prisão, pai,
Não sabes desenhar um pássaro?
E eu digo-lhe: "Filho, perdoa-me.Esqueci-me da forma dos pássaros.
O meu filho coloca o livro de desenhos à minha frente
E pede-me que desenhe uma espiga de trigo.
Pego num lápisE desenho uma arma.
O meu filho desdenha da minha ignorância,perguntando,
"Pai, não sabes a diferença entre uma espiga de trigo e uma arma?"
Eu digo-lhe: "Filho,uma vez usei a forma da espiga de trigoa forma do pão
a forma da rosa Mas nestes tempos durosas árvores da floresta juntaram-se
aos homens da milícia e a rosa veste uniformes escuros
Neste tempo de espigas de trigo armadas de pássaros armados de cultura armada
e de religião armada não se pode comprar pão sem encontrar uma arma no interior
não se pode colher uma rosa do campo sem que os seus espinhos nos arranhem o rosto
não se pode comprar um livro que não vá explodir entre os nossos dedos.
"O meu filho senta-se à beira da minha cama e pede-me que recite um poema
Uma lágrima cai dos meus olhos para a almofada.
O meu filho apanha-a, surpreendido, dizendo:
"Mas esta é uma lágrima, pai, não é um poema!"
E eu digo-lhe:"Quando cresceres, meu filho,e aprenderes o 'diwan' da poesia árabe
descobrirás que palavra e lágrima são gémeas
e que o poema árabe não é mais do que uma lágrima chorada por dedos que escrevem.
"O meu filho pega nos seus pincéis,a caixa de pinturas à minha frente
e pede-me que lhe desenhe uma pátria.
O pincel treme nas minhas mãos e eu afundo-me, chorando...
ALLAH_U_AKBAR.Nizzar Qabbani