sexta-feira, 21 de agosto de 2009

UTOPIA-Vania Vieira.

UTOPIA-Vania Vieira

O que lhe deste senão
desde que o arrancaste de mim,
além do perceber de um corpo
que se desgasta vagando em vão
e que se arrasta em tiques e dores,
num gênio às vezes intragável,
mãos vazias e pernas trôpegas?


Deste-lhe também uma distância
monótona e incômoda
um olhar triste e cansado
que ora se traduz em amor exponencial
ora em uma enorme culpa vivencial.
O que lhe prostra a vagar
sem achar o prumo da razão.


E não o transporta novamente
ao ventre de ilusões
para que ele se insurja diariamente,
se contorcendo ante os horrores
dessa vivência fria e sem graça,
dessa fuga diária evitando-te claramente
dessa utopia que chamas VIDA à dois!

...Quando eu nasci...Vania Vieira

Quando nasci fui recomendada solenemente: encarnaria em anjo e o meu lado negro que todos temos, caminharia em orlas ardentes. Seria de mim mesma paz e desassossego, e não me veria pronta à não ser por muitas buscas e pelas pontas rutilantes das minhas palavras...mas arranharia e seria arranhada na alma e na carne...e fui...
Quando meu primeiro choro salgou a minha pele, tive a sensação de primeira chuva, e na primeira
chuva ,vibrações de meu primeiro choro.
Rasguei os estatutos e quebrei as normas, não me cabem regras se não me moldo ao barro dos eretos e não me vergo aos estilhaços da fala. Prefiro a escrita para enfrentar meus supostos inimigos e chego a fazer deles admiradores de muitas das minhas idéias...
Fui consagrada na homília dominical e rompi o círculo das cabalas. Sou um corpo iniciado nas mandalas,nas montanhas dos Andes e dos Himalayas, nas pirâmides egipcias e nas catacumbas romanas...desci Ganges e gates indianos, peregrinei em falucas do Nilo, lagos sagrados, templos...sempre circunscrevendo meu próprio espaço.
Agora, sem medo,me coloco na pira em que arderei incessante porque sou de mim, salvação em holocausto.Não comungue na mesma pátena, há de ter nela o meu sangue vertido em sofrimentos só meus. Consagre a sua oferenda a rebeldia dos insensatos e se aceite; como você,terei em mim o pecado original, a Gênesis em essência...
Quando escancarei a cara no mundo ingressei nos profanos tabernáculos e oráculos, lí manuscritos sagrados , apócrifos e botei o pé na profecia, bem antes que me dessem as chaves da existência quando eu já rompia com as exigências:'no intuito de me fazer carta e cartilha nesse jogos que se joga as avessas.
Se nos púlpitos da excelsa divindade eu me adorar, saiba que neles fui tragada e repelida muitas vezes, muitas vidas, mas cabalmente concebida, sem pecados.
Sim, adentrei a vida pela margem oposta, a comum dos muitos pares meus...segui sendas nem sempre muito sacras; sou quebra-cabeça e caleidoscópio, em constante mutação.

Essa sou eu, mil vezes renascida, sutilmente concebida no útero de GAIA, recebida solenemente em sua porta de entrada!