sábado, 18 de janeiro de 2014
A vida não é fácil, nem sempre é justa e, raramente, é pacífica: em sentimentos, em esperanças, em certezas, em metas, em ambições. Viver tem o seu custo e a fatura frequentemente é alta. Demasiado alta, mas, é vida! Tem o borbulhar oxigenado da respiração que nos alimenta, que nos invade e nos glorifica. Por vezes a vida assemelha-se a uma longa pista de obstáculos que têm de ser ultrapassados (de preferência vencidos) com roupa de gala e sapatos de pelica, não há tempo para o conforto e a informalidade, mesmo que a transpiração seja excessiva, o coração assuma o ritmo de tambor e a respiração seja luxo de audazes.
Portanto, a vida é pródiga em tirar-nos o sono e em provocar voltas e reviravoltas na nossa existência. E, por vezes, a sufocação é tão intensa que para respirar bem há que fazer a travessia no deserto. Há que alargar o espaço que nos envolve e procurar distâncias para pensar, para respirar, para readquirir a boa forma ameaçada. Pode ser nas areias abrasadoras ou nos oásis refrescantes. Pode ser onde quisermos, se quisermos querer.
Por lá andamos a encher-nos de luz, aquela que nos abre o espírito e amacia o coração, que nos devolve o sorriso e a confiança guardado no bolso direito de um casaco muitas vezes esquecido. Por lá enterramos nas areias frescas de um oásis verdejante as humilhações silenciosas ou públicas que engolimos como sapos em noites de Verão.
Enterramos enganos e desenganos, enterramos raivas e decepções, enterramos mentiras, mistificações, enjoos, heroicidades e desmotivações. E, enterramos, principalmente, traições, incompreensões, batalhas perdidas e visões renegadas. No deserto ou na cosmopolitidade de uma qualquer cidade turbilhante, reergemo-nos, lenta e sofridamente, dia após dia até, ao dia decisivo de voltar às pistas longas, de obstáculos caprichosos, armadilhados. Mas aí, nesse regresso, volta-se qual Adónis feito homem, não pela beleza mas pelo conjunto de visões lúcidas que é necessário partilhar. E quando o desejo rasga as improbalidades ressurge-se com a boa forma que causa admiração e perplexidade. Aí, acaba-se por marcar o primeiro ponto positivo num jogo que não se programou jogar...Vania Vieira , 2013.
"O rio atinge seus objetivos porque aprendeu a contornar obstáculos".
(Lao-Tse)
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