quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Ser avô/avó, uma arte...

ARTE DE SER AVÔ (AVÓ) Rachel de Queiroz

" Netos são como heranças: Você os ganha sem merecer. Sem ter feito nada para isso, de repente lhe caem do céu... É como dizem os ingleses, um "Ato de Deus"...
Sem se passarem as penas do amor, sem os compromissos do matrimônio, sem as dores da maternidade. E não se trata de um filho apenas suposto. O neto é realmente, o sangue do seu sangue, filho do filho, mais filho que filho mesmo... Cinqüenta anos, cinqüenta e cinco... Você sente, obscuramente, nos seus ossos, que o tempo passou mais depressa do que esperava. Não lhe incomoda envelhecer, é claro. A velhice tem suas alegrias, as suas compensações; todos dizem isso, embora você pessoalmente, ainda não tenha descoberto, mas acredita. Todavia, também obscuramente, também sentida nos seus ossos, às vezes lhe dá aquela nostalgia da mocidade. Não de amores com paixões: a doçura da meia idade não lhe exige essa efervescência. A saudade é de alguma coisa que você tinha e que lhe fugiu sutilmente junto com a mocidade...Bracinhos de criança.
O tumulto da presença infantil ao seu redor.
Meu Deus, para onde foram as suas crianças? Naqueles adultos cheios de problemas que hoje são os filhos, que têm sogro e sogra, cônjuge, emprego, apartamento e prestações, você não encontra de modo algum suas crianças perdidas...São homens e mulheres, não são mais aqueles que você se recorda. E então, um belo dia, sem que lhe fosse imposta nenhuma das agonias da gestação ou do parto, o doutor lhe coloca nos braços um bebê.
Completamente grátis - nisso é que está a maravilha. Sem dores, nem choro, aquela da qual você morria de saudades, símbolos ou penhor da mocidade perdida. Pois aquela criancinha, longe de ser um estranho, é um filho seu que lhe é devolvido. E o espanto é que todos lhe reconhecem o seu direito de o amar com extravagância. Ao contrário, causaria espanto, decepção se você não o acolhesse imediatamente com todo aquele amor recalcado que há anos se acumulava, desdenhado no seu coração.
Sim, tenho certeza de que a vida nos dá netos para nos compensar de todas as perdas trazidas pela velhice. São amores novos, profundos e felizes, que vêm ocupar aquele lugar vazio, nostálgico deixado pelos arroubos juvenis. E quando você embala o(a) menino(a) e ele(a), tonto(a) de sono abre o olho e diz "VÔ,VÓ !" seu coração estala de felicidade, como pão no forno!"

A Solitude no desapego-

A SOLITUDE NO DESAPEGO
Desapego, o ato de nos desprendermos, desligarmos de situações, pessoas, matéria, bens do mundo, falsas crenças e emoções que caracterizam uma condição de nossas vidas. Não, não é fácil o ato do desapego. Estamos atrelados às coisas por uma determinação e mesmo um sentido de posse personalizada que vai além da aceitação de nosso ego.
O ato em si pode parecer um mero afastamento, mas de nada nos serve afastar do objeto de nosso apego, se em nossa mente não nos desligarmos completamente, entregarmos seja o que for, ao seu próprio destino, e nós, a nossa própria escolha. O que nos impede inicialmente o desapego é o julgamento que fazemos do objeto em si em relação a nós, depois o julgamento que fazemos de nós, nossa pretensa posse, domínio e ligação. Mas, podemos entender a diferença entre desligarmos nossa mente racional, onde nossos pensamentos nos mantém cativos, de nosso coração, que pode manter os bons sentimentos em relação àquilo que realmente de positivo ficou, as boas qualidades da pessoa ou situação de aprendizado vivenciada.
O verdadeiro desapego no coração pode trazer a compreensão necessária, pois, o coração, como sendo a virtude superior que há em nós, primeiro perdoará, desejará o melhor e construirá novos objetivos ao realmente crermos no melhor. Já a mente, à mente racional, em relação aos pensamentos de ligação, será o açoite da alma se permanecer em um círculo vicioso. Poderá, no entanto, ser o bálsamo do entendimento, se despertar os pensamentos de pureza e bondade do qual somos capazes.
O desapego, muitas vezes, incide sobre o pensamento, de qual justiça está sendo aplicada à nossa vida, para termos de nos afastar de algo que temos, ou condição que vivemos, mas esse desapego também é conseqüência de nossos atos, que dentro da imaturidade e de nossa incapacidade momentânea de lidar com as situações, nos leva ao ápice indesejado de qualquer situação. Há uma necessidade, porém, de identificar que a situação pode realmente não ser positiva, podemos estar iludidos, cegos emocionalmente, entregues ao mundo das sensações e condicionados apenas ao sentimento momentâneo de poder, posse e prazer que a situação nos traz. Identificar essa situação tardiamente, pode levar a decepção consigo, e a um desequilíbrio temporal, mas que pode vir a ser necessário para libertar a vontade de tal ilusão, quebrando os paradígmas do ego
No tocante à justiça, que pode ser questionada, ainda no afastamento, pode-se perguntar; como algo que foi construído ao longo da vida inteira, com sacrifício, amor dedicação pode nos ser tirado, pode afastar-se de nós e perder-se sem qualquer justificativa da vida, do homem ou de qualquer outra manifestação? Sim, muitas vezes não há justiça ou compreensão que possa dar alento ou compreensão às perdas que se tornam inevitáveis, mas são perdas ilusórias. A perda de um ente querido, uma separação amorosa, um bem do justo esforço. Nestas situações, o desapego é o mais dolorido, difícil e complexo. Não há palavras que tragam imediata paz e conformidade. Apenas cada um, segundo sua experiência, e a consciência de Deus conhece sua própria dor e dificuldade. Mas há solução. Neste mundo nada é definitivo, a vida, porém, é definitiva, se compreendemos sua extensão, que está além da medida quem damos para a plenitude e o prazer deste mundo. Ora, falar de medidas que estão além deste mundo, ou desta existência pode confundir a mente e o coração que procuram alento apenas para as coisas terrenas. A questão é que não existe alento para as coisas terrenas sem o entendimento, de que este alento, não vem daquilo que é terreno.
Desapegar-se, significa também confiar na Providência divina, que é a única fonte que provê paz. Sim, para que haja alento é necessário paz. A paz que não vem daquilo que o homem pode oferecer, nem do que e ele pode dizer ou realizar. Não há verdadeiro desapego se não confiamos na paz de Deus. Qualquer outra coisa que venha nesta intenção será um subterfúgio fugaz, que não terá poder para trazer a consciência necessária, o entendimento correto e a luz que fornece a revelação de que todo desapego em verdade é o que nos aproxima de Deus.
É importante sim viver o que antecede o desapego, porém o mais importante é o aprendizado a que ele pode nos levar em face de seu importante reconhecimento. Há coisas que devemos reconhecer para nos desapegar, mas há outras das quais devemos nos afastar independente de qualquer situação. Pois podemos estar cegos ao que nos limita no apego, dentro do apego. Desapegar-nos da ignorância, dos ódios, das contestações, da ouvida de futilidades, da divulgação do mal, do falatório, hostilidades, roubos e quantas mais que podemos identificar com uma profunda reflexão. O desapego das justificativas que usamos para não fazer o que é correto, ou reconhecer às próprias falhas, como também às próprias qualidades que poderiam ser vividas sem medo.
Enfim, parte de nosso aprendizado de crescimento, de nos tornar pessoas mais completas e justas conosco mesmo, e com o próximo, permitindo que a vida que pode se tornar plena flua em paz. A dor na despedida é justa, mas o entendimento de sua necessidade nos faz reencontrar mais depressa. Toda despedida é temporária. Se na paz buscarmos entendimento, vivenciaremos as grandes oportunidades de despertar para àquilo que é mais o importante. Se conseguirmos viver o desapego, perceberemos que ele foi necessário para que o melhor se manifeste mais à frente. Só em Deus toda essa possibilidade ser torna real, do contrário não haverá entendimento, nem paz, nem alento.
“Não há solidão diante do Todo, há apenas paz e serenidade. O grande oceano aguarda por nós, precisamos para alcançá-lo, apenas estar em paz”