terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Ser transparente -Vania Vieira Bsb,2013. Costumamos acreditar que ser transparente é simplesmente ser sincero, não enganar os outros. Mas ser transparente é muito mais do que isso. É ter coragem de se expor, de ser frágil, de chorar, de falar do que sente. Ser transparente é desnudar a alma, é deixar cair as máscaras, baixar as armas, destruir os imensos e grossos muros que nos empenhamos tanto para levantar. Ser transparente é permitir que toda a nossa doçura aflore, desabroche, transborde! Mas, infelizmente, quase sempre, a maioria de nós decide não correr esse risco. Preferimos a dureza da razão à leveza que exporia toda a fragilidade humana. Preferimos o nó na garganta às lágrimas que brotam do mais profundo do nosso ser. Preferimos perder-nos numa busca insana por respostas imediatas a simplesmente entregar-nos e admitir que não sabemos, que temos medo! Por mais doloroso que seja ter de construir uma máscara que nos distancia cada vez mais de quem realmente somos, preferimos assim, manter uma imagem que nos dê a sensação de protecção. E, assim, vamos afogando-nos mais e mais em falsas palavras, em falsas atitudes, em falsos sentimentos. Não porque sejamos pessoas mentirosas, mas apenas porque nos perdemos de nós mesmos e já não sabemos onde está a nossa brandura, o nosso amor mais intenso e não contaminado. Com o passar dos anos, um vazio frio e escuro faz-nos perceber que já não sabemos dar -nem pedir- o que de mais precioso temos a compartilhar: doçura, compaixão, a compreensão de que todos nós sofremos, sentimo-nos sós, imensamente tristes e choramos (baixinho) antes de dormir, num silêncio que nos remete a uma saudade desesperada de nós mesmos, daquilo que pulsa e grita dentro de nós, mas que não temos a coragem de mostrar àqueles que mais amamos! Porque, infelizmente, aprendemos que é melhor vingar, descontar, agredir, acusar, criticar e julgar do que simplesmente dizer: está a deixar-me triste, Pode parar, por favor? Porque aprendemos que dizer isso é ser fraco, é ser bobo, é ser menos do que o outro. Quando, na verdade, se agíssemos com o coração, poderíamos evitar tanta dor. Sugiro que deixemos explodir toda a nossa doçura! Que consigamos não prender o choro, não conter a gargalhada, não esconder tanto o nosso medo, não desejar parecer tão invencível. Que consigamos não tentar controlar tanto, responder tanto, competir tanto que consigamos docemente viver, sentir, amar. E que seja não só razão mas também coração, não só um escudo, mas também sentimento.