Presença constante? Passado?Presente???-Vania Vieira.
Se não fosse pela minha avó , que de vez em quando vem de longe, muitas vezes em sonhos, iluminar os recantos sombrios do meu passado e, por algumas fotografias que não foram rasgadas e que se acumulam em minhas gavetas, como eu poderia escrever poesias, contos e histórias que me falassem deste passado? Teria de forjar com a imaginação, sem outro material além dos fios evasivos de muitas vidas alheias e de algumas lembranças ilusórias. A memória é ficção. Selecionamos o mais brilhante e o mais escuro, ignorando o que nos envergonha, e assim bordamos a larga tapeçaria da nossa vida. Através da palavra escrita e destas algumas fotografias, tento desesperadamente vencer a condição fugaz da minha existência, agarrar os momentos antes que se desvaneçam, iluminar a confusão do meu passado antes que se esvaiam pelos meus poros. Cada instante desaparece num sopro e imediatamente se converte em passado, a realidade é efémera e migratória, pura saudade. Com algumas fotografias e estas páginas escritas muitas vezes à ermo para só terem significação quando as releio, mantenho vivas as lembranças; elas são o meu apoio a uma verdade fugitiva, mas verdadeira de qualquer forma... elas provam que os fatos aconteceram e estas personagens passaram pelo meu destino, pela minha história. Graças a elas posso ressuscitar todos eles que se foram prematuramente: minha mãe, meus aguerridos avós- o meu sábio avô dos mais belos olhos azuis que eu já ví- e outros anéis da longa cadeia da minha família, quase todos hoje já ausentes, mas todos de sangue e mentes fortes e ardentes. Escrevo para clarificar os segredos antigos da minha infância, definir a minha identidade, criar a minha própria lenda...minha ficção...Na esperança que eles se transformem em realidades vivas...
No fim de contas a única coisa que temos na totalidade é a memória que fomos tecendo. Cada qual escolhe o tom para contar a sua própria história; teria gostado de optar pela clareza duradoura de uma impressão em platina, mas nada no meu destino,vejo agora, possui essa qualidade luminosa. Tudo muito singelo, mas verdadeiro. Sua qualidade de luz se imprime à proporção que vou lembrando! Vivo entre matizes difusos, misteriosos, cheio de muitas incertezas; o tom para contar a minha vida ajusta-se à maioria das vezes, mais ao de um retrato em branco e preto, que eu aprendi à colorir...com a minha espiritualidade...com a minha FÉ!
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