A vaidade, quando passa dos limites, é como tempestade no deserto: não destrói nada, porque não tem nada para destruir. No entanto, não deixa ninguém passar.
A vaidade é igual ao sal: se não se o põe fica insípido; se se o põe muito, o sabor se torna insuportável.
Ela é semelhante a um parafuso: se não ficar na medida não segura a porca.
A alma pretenciosa faz muito barulho, e realiza pouca coisa.
Se tu fizeste alguma coisa, não desmereças a tua obra, falando muito dela. Deixa essa tarefa para os outros. A auto-educação é trabalho nobre, todavia a autovalorização é papel dos néscios.
A vaidade pode ser até um alimento, que, muito quente estraga o paladar, e bem morninho agrada a consciência.
E o pior é falar muito do que não fizemos ainda: o amor próprio se transforma em desespero, e passa a acreditar nas piores das mentiras, aquelas mais ou menos conscientes das ilusões afirmadas. E a alma fica torturada pela consciência.
O gabo em boca própria é jardim sem flores, é casa sem habitação.
É teoria sem prática, é tributo sem ouvintes.
Só resta uma coisa para o que fala muito de si mesmo: é que algum dia venha ele a fazer tudo o que diz.
A nossa mente pode ter uma grande fertilidade de criação, fornecida pela inteligência. Entretanto, a sabedoria nos mostra comedimento até no pensar. Em muitos casos estamos sujeitos a criar ilusões que tomam formas mentais, a nos perseguirem,´pelo que prometemos a nós mesmos, e não fizemos.
A imodéstia é edifício levantado na areia: pode cair a qualquer hora.
A decepção maior é a do mentiroso, e não a dos que ouvem as suas lorotas. E a cegueira mais forte dos que não falam a verdade ocorre quando eles passam a acreditar nas suas próprias ilusões.
Quem promete muitas coisas e se esquece de cumpri-las, é como nuvens e ventos que não trazem chuva, é como papagaio que repete o que ouve. É como o cão que ladra para a sua própria sombra.
A vaidade não é uma beberagem comum, deve ser tomada como doses homeopáticas.
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