quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Você está tentendo enganar a quem? Vania Vieira-julho de 1998.

Você está tentando enganar a quem?!?
Vânia Vieira , julho de 1998.
Era a terceira vez que ela me procurara em menos de 10 dias. Até aí, poderia ser ótimo, já que gosto tanto delas...na verdade amo-as...e sentia que cada uma a seu tempo, ainda iam ligar muito, até que entendessem..Hoje que tenho um sentido realista dos laços cármicos que nos une, não poderia deixar de ouvi-las...No caso dela, nem sempre existia as insistentes ligações, mas agora o problema é que ligava sempre aos prantos, extremamente ressentida por causa de certas atitudes que ele havia tomado pela enésima vez.Cada vez se tornava mais difícil ouvi-la, especialmente porque não conseguia compreender o que a levava a se indignar com algo que me parecia tão repetente e até corriqueiro, de certa forma. Afinal, desde que ela me conta sobre ele e seu jeito de ser, sempre foi assim: nada mudou. Portanto, ela se surpreendia com o óbvio e previsível.Como sei que esses “nós” que o coração dá de vez em quando, são dolorosos de se desatar, tentava mostrar a ela o quanto estava insistindo numa relação que não prometia as tais mudanças que ela tanto desejava. Por mais que ela acredite que o ama, é nítido que, na verdade, ela o idealiza.Ou seja, ela não ama este homem que se mostra a ela do jeito que é. Ela ama um outro, nele mesmo, inventado por seus próprios desejos e anseios...e isso fazemos TODAS nós... Ela, deseja se relacionar com uma outra alma e tenta modelar a dele porque tem medo de se dispor a buscar uma nova relação... Assim, já se passaram mais de 5 anos... e ela continua se maltratando por não conseguir transformá-lo no homem que ela gostaria que ele fosse. Ele é quem sempre foi (ele é assim! nós nascemos de diferentes modos de ver a vida!) e cada um de nós temos o direito de ser do nosso próprio jeito e agora, parece que só ela não percebe.Daí me lembrei de um trecho de um diálogo fantástico entre o rei e o principezinho, do clássico “O Pequeno Príncipe”, de Saint Exupéry: “- Se eu ordenasse ao meu general voar de uma flor a outra como borboleta, ou escrever uma tragédia, ou transformar-se em gaivota, e o general não executasse a ordem recebida, quem – ele ou eu – estaria errado? - Vós, respondeu com firmeza o principezinho. - Exato.
É preciso exigir de cada um o que cada um pode dar, replicou o rei!!!”. E fiquei me perguntando: a quem será que ela está tentando enganar? A mim ou a ela mesma?!? Sim, porque ninguém, absolutamente ninguém, fica numa situação em que não está ganhando nada...somando nada... Nem que este “ganho” seja, antes, uma enorme perda.Então, quer seja o papel de abandonada ou o de boazinha; quer seja o de mulher que ama sob qualquer condição, tentando obter o lugar de mártir... ou quer seja a necessidade de conseguir a atenção das pessoas e, de quebra, não precisar trocar a tão conhecida dor pela possibilidade de experimentar uma nova tentativa de amor, o fato é que ela já deveria ter se dado conta de que só está nesta posição porque quer, porque escolhe, dia após dia, ligação após ligação, reclamação após reclamação, continuar exatamente como e onde está!Fácil sair?!? De forma alguma! Mas humanamente possível - e sobretudo admirável - quem escolhe a vida, o amor e a coragem, reconhecendo que o outro é como decide ser e cada um de nós fica onde resolver ficar!!! Continuar somando frustrações por conta das escolhas e atitudes do outro é infantil, é cansativo para quem olha, irritante para quem ouve e sem graça para quem vive. É desperdício, triste e inaceitável desperdício de inteligência.Por essas e outras, eu tomo aqui a minha decisão. Gosto dela e por isso a escuto. Já cansei de argumentar e abraço a verdade. Isto é: enquanto ela mesma não virar a página e não escolher, finalmente, a si mesma... vai continuar tentando se enganar. A mim, não engana mais.Desejo, então, do fundo de minha alma, que ela resolva, dia desses, olhar para si mesma, diante do espelho, e dizer: "Menina, acordei! Tenho muita vida pela frente; chega de acreditar que o outro é a razão de minha existência. Ninguém é, além de mim mesma!!! A partir de agora, compreendo que alguns desejos meus não são os mesmos desejos do outro. Ou eu fico e aceito como é; ou eu pego meu chapéu e parto em busca de meus sonhos"...E que assim seja para todos aqueles que tiverem coragem de se perguntar a quem estão tentando enganar! Porque senão, a vida acaba e tudo realmente não terá passado de um grande engano!
*quando enviei este texto a uma delas, esta perguntou-me imediatamente: Escreveste isso para quem?
Respondi monossilábicamente, mas meu coração queria dizer :
-Para mim, para você, para ela, para todas as mulheres do mundo...em diferentes fases...TODAS nós um dia ...

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