Sim, agora trago em mim mistérios insondáveis
Trago no olhar o frio dos oceanos
e o ar gelado dos glaciares.
Trago profundezas que nem ouso perscrutar
Trago belezas que nem ouso destacar...
Trago mil tons de verde esperança
e azuis infindáveis a descobrir
Trago um olhar diferente
sobre tudo o que me é dado a observar...
Houve um tempo
em que meus olhos eram sóis vibrantes de cor
Girassóis que bailavam
com cada coisa nova que viam.
Pareciam borboletas
que mal se detinham em coisa alguma
para logo se deterem noutra coisa qualquer...
Tive um tempo
em que meu olhar era quente e meigo
e dele sobressaía paz e ternura...
Não perdeu a cor
Apenas perdeu o brilho de outrora
Não deixou de ver
Apenas vê com maior detalhe agora.
E tudo o que parecia simples
tornou-se complexo
E até os gestos mais banais
perderam a naturalidade...
Tenho agora um olhar diferente
mais maduro, mais gelado, mais distante
Mas um olhar atento como muito mais que antes
Que depressa derrete o gelo
se for mantido quente com carinho
que depressa se enternece
se lhe for dado a observar
algo verdadeiramente terno e belo...
Tenho hoje um olhar diferente
sobre mim, sobre os outros, sobre a vida
tenho um olhar diferente
mas que não perdeu o azul que tinha
quando partia à conquista de novos dias.
Nem o verde que bailava nos cílios
sempre que se aproximava do mar...
Hoje o meu olhar verga-se ao que de fato
merece a pena ser visto
com detalhe
com minúcia
com um olhar diferente
De quem vê a vida...
Não apenas pelo seu próprio olhar
Mas igualmente pelo olhar
De tantos outros olhos que me rodeiam...
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