segunda-feira, 20 de junho de 2011

PRESENÇA-Vania Vieira

PRESENÇA


O que é Presença? O que é Estado de Presença? O que é Presentificar-se?

Podemos dizer que “presenciamos” algo. Ou que lá estávamos quando o fato aconteceu. Presenciamos o desabrochar da rosa, presenciamos o pôr-do-sol, presenciamos a festa de formatura do João.

“Estive presente” por ocasião do milagre. Do nascimento de meu filho. Antonio sempre foi um pai e Dora, uma mãe “presente.”, atuante.

Presença quer dizer: Consciência da percepção do Aqui e do Agora. Estar totalmente “inteiro” em tudo o que se faça.



Muitas, muitas vezes mesmo, quando não estamos prestando atenção ao momento, sem que percebamos de imediato, nossa mente entra em estado de devaneio. Antonio “viajou na maionese”, dizem alguns. Ou: Geraldo vive “no mundo da lua” ou ainda: “não sei onde estava a minha cabeça quando fiz aquilo”. E ainda: “Você está dando nó nas idéias!” – em raciocínios circulares, inconclusivos.



Veja, o pensamento associativo ou o pensamento avaliativo pode, por frações de segundo ou mesmo por longo tempo, bloquear a sua percepção da chamada “realidade objetiva”. É quando entramos em introspecção. Ou quando estamos “ensimesmados”. É quando sentimos uma forte emoção e esta lhe dita pensamentos provenientes do sentimento ali decorrente. O que por vezes nos deixa cegos, surdos e mudos perante a nossa realidade circunstancial e mesmo factual do acontecimento. Uma pessoa com um forte acesso de raiva, portanto albergando pensamentos negativos, rancorosos, retaliativos, pensamentos fixos ou obsessivos, simplesmente perde por algum tempo – e às vezes por anos e anos – a visão lúcida do que compõe a sua realidade. Uma pessoa com muita raiva simplesmente não enxerga um palmo na sua frente. Seu campo perceptual se limita a uma faixa muito estreita de alcance dos seus sentidos ordinários. Igualmente, uma pessoa muito apaixonada só enxerga o objeto (e sujeito) de sua paixão.



Por tantas vezes, falamos e não dizemos, escutamos e não ouvimos, olhamos mais não vemos, tocamos e não sentimos nada! No mais das vezes, em especial no mundo atual corrido, complexo, competitivo, tumultuado, sem tempo para nada... Quando não desenvolvemos o hábito de parar, sentir, refletir, meditar, acalmar nossas emoções e pensamentos, simplesmente nos alienamos de nossa própria Essência, nos deixamos distrair pela complexidade ou superficialidade da crônica diária e nos deixamos inconscientemente ser levados no e pelo roldão dos acontecimentos. Assim, vamos “no embalo”, ligamos e esquecemos de desligar nossa atuação cotidiana no “piloto automático”, quando assim efetivamente não vemos, não sentimos, não escutamos, não tocamos a realidade que nos cerca, apenas reagimos como pessoas somente reativas. Que não empregaram tempo para pensar, avaliar, e com responsabilidade agir.



“Responsabilidade” vem de “responder”: simplesmente respondem, simplesmente reagem. É o que se diz de pessoas com “mentalidade de rebanho” ou “mente cristalizada”: apenas seguem, sentem, pensam e agem como todos seguem, sentem, pensam e agem. Quase que absolutamente sem um pensar mais crítico, mais autêntico, mais profundo, mais questionador, um pouco mais sadiamente rebelde. Simplesmente “vão na onda de...”, como dissemos, vão no “piloto automático”, no robotismo gerado pela escravidão em seus hábitos e comodismos, em milhares de condicionamentos e formas de pensar absurdamente padronizadas. E somente uma minoria mais conscientizada são “proativos”, ou seja, criam, engendram uma ação própria, direcionada, original, criativa e que assim fazem a diferença e influenciam sabendo o que estão fazendo, positiva ou negativamente, à sociedade, bem como àqueles que lhes são mais próximos, influenciando também os reinos da natureza: os minerais, os vegetais, os animais.



Dizemos que Presença ou Estado de Presença é a consciência da percepção do Aqui e do Agora. E como é importante reconhecermos nosso próprio estado alienativo, saber que mal estamos realmente vivendo, estamos mais em vegetativa atuação na vida como expectadores, no máximo como atores coadjuvantes... Apenas como observadores (quando realmente observamos!) da vida que passa... Que vai passando... Que deixamos passar! Porque, para começarmos mesmo a viver nossa própria vida, primeiro é preciso olhar para dentro de nós mesmos e ver o quão pouco estamos mesmo vivendo. Porque a vida, a percepção e o estado de Presença significam a vivencia (não conceitos) plena, intensiva, do momento do Agora, exatamente no Aqui que nos encontramos.



Conta-se que o prof. Albert Einstein, saindo de uma aula, vinha descendo a ladeira do campus universitário acompanhado de seus alunos ávidos por conhecimentos e por poder desfrutar pessoalmente das explicações e convicções científicas do mestre, o qual lhes discorria sobre fundamentos e especulações de sua famosa teoria da relatividade. A certa altura do caminho, em sentido oposto, vinha subindo um grupo de alunos. Einstein então parou e perguntou a um deles: Quando vocês me encontraram, eu vinha de lá ou de cá? – Professor, o senhor vinha descendo a ladeira do lado de lá. Mas por que pergunta, prof. Einstein? – E ele respondeu: Bom que eu vinha de lá. Isto quer dizer que já almocei.



Einstein não estava distraído, “viajando na maionese” ou “no mundo da lua”. Ocorre que o elevado nível de abstração e considerações matemáticas, físicas e metafísicas de alto grau de subjetividade que de momento impregnava e trabalhava seu intelecto, simplesmente o tinha feito perder momentaneamente o sentido perceptivo de sua realidade objetiva, circunstancial. Ou seja, o pensamento e sua grande faculdade de pensar o tinha bloqueado a visão e conseqüentemente a percepção de seu próprio caminhar.



Isto acontece todos os dias com cada um de nós. É natural. O que aqui queremos consignar é que, treinando-nos em ampliar a nossa percepção do momento, podemos alcançar uma conscientização mais plena de nós mesmos, expandindo os nossos horizontes perceptivos para a vivencia plena e integral de cada instante de nossa vida. Você já observou que, quando se está com a mente concentrada, quando nos esforçamos em executar um trabalho minucioso, ou quando nos entretemos com a televisão ou algum jogo, quando estamos em meio a uma discussão ou assistindo atentamente alguma palestra, tudo o mais desaparece de nossa percepção? Mas o que é melhor: Trazer nossa mente em nossas rédeas e fazê-la trabalhar objetivamente na ação ou no trabalho intelectual e criativo ou deixá-la andar por aí em cegos devaneios?

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