terça-feira, 9 de dezembro de 2008

...este É Leonardo Boff!

Terra, corpo de Deus
No dia internacional do meio ambiente, sozinho num canto do jardim onde posso ver tudo sem ser visto por ninguém, fui tomado de comoção pela majestade das montanhas que guardam, quais guardiães, minha casa, e pelo azul profundo do céu matinal. E então celebrei como outrora. O horizonte era o altar, o pão sagrado, a Terra inteira, e o cálice, o espaço formado por duas montanhas que se abrem em forma de V. Li textos sagrados. Meditei salmos de louvor pela grandiosidade da criação. Sobre a patena do horizonte ofereci o inteiro universo com suas galáxias, miríades de estrelas e incontáveis planetas. E eis que chegou o momento mágico e místico da consagração. E então, com as mãos trêmulas pelas energias cósmicas que entranham a realidade, e com os lábios incandescentes pelo fogo das palavras sagradas, pronunciei com reverência:''Terra minha querida, Grande Mãe e Casa Comum! Finalmente chegou tua hora de unir-te à Fonte de todo ser e de toda vida. Vieste nascendo para isto, lentamente, há milhões e milhões de anos, grávida de energias criadoras. Teu corpo, feito de pó cósmico, era uma semente no ventre das grandes estrelas vermelhas que depois explodiram, te lançando pelo espaço ilimitado. Vieste aninhar-te, como embrião, no seio de uma estrela ancestral, no interior da Via-Láctea, transformada depois em Supernova. Ela também sucumbiu de tanto esplendor. E vieste então parar no seio acolhedor de uma Nebulosa, onde já, menina crescida, perambulavas em busca de um lar. E a Nebulosa se adensou virando um Sol esplêndido de luz e de calor. Ele se enamorou de ti, te atraiu e te quis em sua casa, junto com Marte, Mercúrio, Vênus e outros planetas. E celebrou o esponsal contigo. De teu matrimônio com o Sol, nasceram filhos e filhas, frutos de tua ilimitada fecundidade, desde os mais pequenininhos, bactérias, vírus e fungos, até os maiores e mais complexos seres vivos. E como expressão nobre da história da vida, nos geraste a nós, homens e mulheres. Através de nós, tu, Terra querida, sentes, pensas, amas, falas e veneras. E continuas crescendo, embora adulta, para dentro do universo rumo ao Seio do Deus-Pai-e-Mãe de infinita ternura. Dele viemos e para ele retornamos com uma implenitude que só Ele pode preencher. Queremos, ó Deus, mergulhar em Ti e ser um contigo para sempre junto com a Terra. E agora, Terra querida, realizo o gesto de Jesus na força de seu Espírito. Como ele, cheio de unção, te tomo em minhas mãos impuras, para pronunciar sobre ti a Palavra sagrada que o universo escondia e tu ansiavas por ouvir: 'Hoc est corpus meum: isto é o meu corpo. Isto é o meu sangue.' E então senti: o que era Terra se transformou em Paraíso e o que era vida humana se transfigurou em vida divina. O que era pão se fez corpo de Deus e o que era vinho se fez sangue sagrado. 'Finalmente, Terra, com teus filhos e filhas chegaste a Deus. Te fizeste Deus por participação. Enfim em casa. 'Fazei isso em minha memória'. Por isso, de tempos em tempos, cumpro o mandato do Senhor. Pronuncio a palavra essencial sobre ti, Terra querida, e sobre todo o universo. E junto com ele e contigo nos sentimos o Corpo de Deus, no pleno esplendor de sua glória.''

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